sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Eu me acuso!

Ouvi alguém dizer que os escoteiros tem o hábito de, ao fim do dia, antes de se deitarem, falarem pra si mesmos: ‘eu me acuso’, e citarem, uma a uma, todas as más atitudes que acreditam ter praticado naquele dia.

Assim, relembram cada uma delas. 

Certamente a ideia é tomar alguma atitude a respeito desses erros. Mas convenhamos, o simples fato de reconhecer os erros já é louvável.

Reconhecer o (próprio) erro nada tem de fácil, corriqueiro ou agradável. Fechar os olhos para ele, isso, sim, é mais comum do que se possa pensar.

Quando o profeta Natã repreendeu a Davi por seu pecado referente a Bate-Seba (2 Samuel 12), temos mesmo a impressão de que a consciência do rei estava absolutamente tranquila!

Ele, Davi, é surpreendido quando o profeta lhe revela que o homem (cruel) é ele próprio!

Só então cai a ficha. Só então seus olhos se abrem e ele, finalmente, se da conta do crime gravíssimo que praticou!

No salmo 32:3-4 Davi descreve o sofrimento por guardar consigo o pecado que cometera.
Salmos 32:3 Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia.
Salmos 32:4 Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio.

Além de não alcançar perdão (que é o pior de tudo), quem não reconhece os erros que comete não pode corrigi-los e, certamente, continuará a praticá-los.
Afinal, se não estou errado vou mudar o que? Por quê?

É pouco provável que apareça um profeta na casa da gente pra nos abrir os olhos. Nesse caso, para o nosso próprio bem, é sempre bom batermos um papo com nossas consciências.

Que tal desenvolver o bom hábito dos escoteiros de, corajosamente, todos os dias, encarar-se a si mesmo e... ‘acusar-se?!’

Ou melhor: Confessar tudo, sem meias palavras, àquele que perdoa pecados e nos dá força para vencê-los!

"Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar todos os pecados e nos purificar de qualquer injustiça". I João 1:9.

Geovani.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Amigo secreto

“É melhor dar do que receber” é uma das grandes verdades da humanidade. Inclusive quando se trata de amigo secreto!

Afinal, a gente nunca ouve ninguém comentar que dá muita sorte nessa troca de presentes. 

Ao contrário, todo mundo reclama de sempre dar um ótimo presente e receber algo que lhe deixa com vontade de trocar por uma caixa de fósforos riscados!

Mas aí, a conta não fecha! Se todo mundo afirma dar bons presentes e todo mundo diz receber presentes ruins, todo mundo está mentindo  sendo ingrato!

Em todo caso, quando chega o fim de ano a gente sempre é “obrigado” a participar de algum amigo secreto. E pra piorar a dificuldade natural que é escolher um bom presente, por um preço razoável, principalmente nessa época quando o comércio se torna ainda mais ganancioso, a gente é lembrado o tempo todo da sina que o outro tem de só receber presente ruim.

E se isso já fosse pouco pra deixar qualquer um preocupado, ansioso e perdido quanto ao que dar de presente, vem algo do tipo: “Se você der perfume está chamando o outro de porco!”.

Pera lá!

Então se der livro o outro é burro? Se der chocolate é passa-fome? Se der maquiagem é feia?  Se der roupa (e, certamente será uma roupa decente) estará chamando o outro de que?!

A ideia de trocar presentes é louvável! É divertido, exercita a generosidade e a comunhão. Ao menos é a intenção.

Tomara que aprendamos a dar e a receber com o coração repleto de amor e alegria. Valorizando, sobretudo, a pessoa do outro. De outra forma corremos o risco de brincar de amigo secreto e cultivarmos inimigos declarados.

Geovani.

Medo de chuva

A maioria das pessoas que conheço tem medo de tempestade.  É evidente que não estou falando de pessoas que moram em situação de risco. Tais pessoas estão cobertas de razão e motivos para se sentirem apreensivas! Falo é das que na segurança de suas casas e bem protegidas sob um firme teto ficam extremamente apreensivas e preocupadas quando o vento e a chuva são muito fortes.

Eu gosto muito de ver chuva. Gosto especialmente de chuva com relâmpagos. Lógico, considerando que se esteja em local seguro! Eu não sei. Pode ser estranho. Mas me impressiona muito ver o céu desabar, como dizem.

Num dia desses, assistindo a chuva pela janela do décimo primeiro andar, eu via a copa das árvores por um ângulo que favorecia observar bem o movimento dos galhos chicoteando o ar, das folhas sendo arrancadas e gravetos caindo.

Então, notei que havia um ninho! Um ninho com um pássaro sobre ele. É possível que houvesse também filhotes ou ovos.

Minha primeira impressão era a de que o ninho em pouco tempo se desfaria e tudo voaria pelos ares! Era uma tempestade fortíssima!

O que percebi, no entanto, foi que aquele ninho estava em excelente situação! Do pássaro não se podia distinguir sequer a cabeça, tão metido em si mesmo estava. Suas penas afofadas e como que aumentadas em volume cobriam todo o ninho deixando-o totalmente impermeável. Notei que não somente o pássaro estava muito confortável como extremamente tranquilo.

Nada dele olhar em volta, abanar asas, mudar de galho. Ficou do jeitinho que estava: muito bem acomodado e pacífico.

Estranhei muito porque a agitação dos galhos da árvore era comparável a um terremoto!
Mas não atingia o ninho!

O segredo estava no local em que o ninho fora construído: Bem na junção do tronco com um grosso galho.

Atentando para esse cenário fiquei ainda mais surpreso! Acontece que a turbulência que se via nos galhos e folhas das extremidades da copa chegava àquele entroncamento que sustentava o ninho como um gentil e suave balanço!

Sim! O que aparentemente seria fonte de desespero para o pássaro era justamente o que lhe aumentava o conforto!

O segredo do sucesso daquele passarinho estava no simples fato de repousar sobre o local certo. Não havia acaso, coincidência ou sorte. Havia precisão!

O passarinho não inventou uma saída. Seria impossível! Ele simplesmente seguiu a natureza de sua criação e o instinto que lhe foi dado pelo Criador. Poderia aquela avezinha ser mais bem dotada de recursos e, sobretudo, confiança que nós, a coroa da criação?

O problema não está em que haja tempestade. O problema é em que lugar construímos nossos ninhos e sobre o que depositamos nossa confiança e segurança.

“Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?” Jesus, o Cristo - Mateus 6:26b

Geovani.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Um dia qualquer

Hoje se comemora dia da Bíblia! E, de novo, nenhuma referência sequer do google que faz doodle pra tudo. Nada. Silêncio absoluto!

Bom, da parte dos que não creem é muito natural e é mesmo o que se espera.

O estranho mesmo é a indiferença dos que dizem crer!

Não sei por ai, mas no meu facebook, todo santo dia, vejo (no mínimo e jogando por baixo), pelo menos dez versículos postados por contatos. Outro sem número de postagens com pedidos de curtidas pra quem crê em Deus e de améns pra imagens ridículas que não significam nada.

Mas quando é dia de se lembrar, comemorar e dar (de novo) Graças a Deus pela sua tão grande misericórdia e tão grande dádiva de trabalhar numa literatura por 1600 anos da história da humanidade, através de 40 autores diferentes, idiomas diferentes e o mais importante, conservando essa revelação de quem Ele é, de quem somos nós, de como fomos criados, nos perdemos e podemos novamente ser restaurados a gente simplesmente se cala!

Se eu citei o google por não fazer menção ao dia da Bíblia, que se poderia falar de igrejas que negligenciam do mesmo jeito essa data? por consequência não estão minimizando a relevância da palavra de Deus?

Ai, não dá pra lembrar de outra coisa senão da pergunta de Jesus: “Quando vier o filho do homem porventura achará fé na terra?”
Geovani

sábado, 13 de dezembro de 2014

Mérito à honra

Terminada a competição de tiro ao alvo os atletas se posicionaram para a premiação. Os três melhores colocados subiram, cada um, ao local do pódio que lhe convinha. 

Foi então que a confusão se iniciou. Um dos competidores, que não havia acertado um único tiro no alvo, queria receber o troféu.

Todos tentavam lhe explicar as normas e regras do torneio. Mas ele não queria ouvir. Nem precisava! Ele as conhecia. Cada linha, parágrafos e exceção do regulamento. O que ele queria, e era só isso que aceitava, era o troféu.

Questionado por qual motivo se considerava mais merecedor do prêmio que os vencedores, respondeu que seu esforço havia sido maior!

Argumentou que os outros atletas eram mais disciplinados. Dedicavam-se ao treinamento havia muito mais tempo que ele. E que nos últimos meses, especialmente, passavam horas e horas todos os dias trabalhando no aperfeiçoamento da técnica e melhoria da precisão de seus tiros!

Ele, por outro lado, chegou à competição totalmente despreparado. Inclusive fisicamente!

Insistia que o arco tinha-lhe exaurido completamente. O esforço para empunhá-lo firmemente enquanto puxava aquela corda, tensionada ao extremo, era sobre-humano!

Mostrou aos juízes suas mãos marcadas e dedos esfolados devido àquele árduo trabalho.

Como, então, poderiam os outros, que terminaram o torneio como quem tivesse apenas dado um breve passeio pelo campo serem mais merecedores de troféus que ele que se encontrava totalmente desgastado?

Moral da história: 
Obstáculo, dificuldade e sofrimento não é mérito. Mérito é vencê-los.

Geovani.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Dos pés à cabeça

A professora do primário, já esgotada e sem muita paciência, mais com ela própria por haver perdido o horário da condução e ter se atrasado do que com as crianças que, como lhes é natural, brincavam quase todas num mesmo canto da sala de aula, entrou como um vento forte em dia de chuva, levantando papéis e poeira da própria mesa.

Era o último quarto letivo, a época em que as ansiedades mais afloram e o planejamento, muitas vezes negligenciado durante o decorrer do ano, vem esfregar-nos na cara todos os erros de cálculo e negligência que praticamos. Tia Vera, como era chamada pelas crianças, tinha os bolsos e as pastas recheadas de preocupações e dúvidas. Não estava em seu melhor estado.

Sentou-se, respirou fundo e só então, juntou ânimo suficiente para olhar as crianças. Seus olhos tais como os de quem acorda de um sono profundo, foram compreendo a imagem turva que se esclarecia aos poucos. Que lindas crianças. Que magníficos sorrisos acompanhavam seus olhos amorosos a lhe fitarem aguardando o seu tão costumeiro - “Bom dia, meus amores!” – ao qual se seguia coro angelical em resposta - “Bom dia, Tia Vera!”.

Do que mais precisaria a docente para sentir correr um frio por sua espinha e de calor ser tomado seu coração?

Reuniu-as todas, ao menos as que seus finos braços puderam alcançar, em um único e gostoso abraço. Sentiu que era privilegiada, que o bom Deus lhe tida dado um reino, um trono e um castelo de quatro por seis metros quadrados repleto de súditos fiéis, valorosos e amáveis.

A despeito da recepção gostosa, as crianças, saudáveis que eram, logo estavam correndo, gritando, gesticulando, deixando objetos cair.

Especialmente naquela manhã tia Vera estava sem forças, desgastada por todo um ano de penosas tarefas, de locomoções cansativas.

Enquanto dirigia-se de volta á sua mesa, pensava aflitamente em uma maneira de facilitar o seu trabalho ao menos naquele dia. Nem mesmo voz sentia ter para repreender, corrigir, chamar de volta ao lugar, convencer da necessidade de compartilhar os brinquedos, de não atrapalhar o amiguinho que quer prestar atenção á história que se conta.

Correu os olhos por toda a extensão da mesa, cada cantinho, como que a procurar um tesouro oculto durante todo o ano. Algo que possuísse o poder mágico de fazê-las sentar quietinhas, boquinha aberta apenas para o espanto e olhinhos arregalados tão atentos estivessem ao que quer que fosse que ela fizesse decidisse ensinar.

Da mesa, seus olhos só tinha força para irem um pouco além, pelo chão da sala. Faltava-lhe forças para erguê-los. E via os pezinhos. Lindos pezinhos! Bem calçados, inquietos, virados de uma forma que parecia impossível ao esqueleto humano. Mas crianças são todas tão maleáveis, tão flexíveis, tanto o corpo quanto o próprio espírito. E dessa observação pensou que talvez pudesse fazer pequenos grupos. Ocupá-las em algum trabalho que não necessitasse de si.

- Crianças, vamos fazer hoje uma brincadeira diferente! – a palavra encantada “brincadeira” teve o efeito de sempre entre as crianças. Todas se puseram a correr para perto da professora com dedinhos apontando o céu e pedidos de “primeiro eu”.

- Todas vão brincar ao mesmo tempo! Vocês vão se ajuntar com o coleguinha que tiver a mesma cor de calçado!

- O meu tem muitas cores, tia Vera. – irrompeu, erguendo o pezinho até bem alto uma das crianças.

- Não tem problema – acudiu Vera – quem tiver o calçado de duas cores faz um grupo. Quem tiver mais de duas cores, varias cores, faz outro grupo. Quero que vocês mostrem para a tia o quanto são inteligentes e façam isso vocês mesmos! Eu vou dar nota pra quem fizer certinho. Mas vocês é que vão fazer, tudo bem?

- Tudo bem – responderam em uníssono enquanto já encostavam pé com pé para analisar melhor os calçados.

E não é que deu certo? Vera estava tão distante que o barulho e a correria na sala lhe pareciam um filme mudo. Por vezes piscava demoradamente, não por sono ou preguiça, mas como que a dar uma saidinha da sala sem que ninguém percebesse. Pobre Vera.

Passado algum tempo, Vera foi trazida de volta à turma por um puxãozinho de manga de camisa. – Tia! tia! Já terminamos os grupos.

Vera não lamentou a interrupção de seu descanso. Ao contrário, sentia-se satisfeita por aqueles longos minutos de quietude e, responsável que era, já começava a se sentir culpada por estar a tanto tempo sem interagir com as crianças.

- Que lindo! Vocês são muito espertos! Estão todos de parabéns! Agora, vamos continuar nos grupos e vamos pintar alguns desenhos.

Vera, já mais animada, distribuiu desenhos de animais diversos, pincéis, potinhos de tinta preparadas a base d´água. Após o que voltou para sua mesa e, revigorada, pôs-se a preparar as próximas atividades que daria ás crianças.

- NÃO!!! – Vera assustou-se com o grito desesperado e agressivo de uma aluna – O que está acontecendo ai? – perguntou colocando-se de pé, atitude que, ela bem sabia, inibia alguma hostilidade das crianças. – Qual é o problema?

- Professora, ela não quer me emprestar a tinta verde!

- O que é isso, Ana? O que aprendemos aqui? Não é compartilhar tudo com os amigos, sermos bondosos e companheiros?

- Mas tia Vera, ele não é do meu grupo. Ele tem outro tipo de calçado!

- A gente pode juntar todo mundo de novo tia? – interviu outro aluno.

- Não, não pode. – Vera gostou da idéia que teve e, em grupos menores, afastados, as crianças acabavam não falando tão alto, não corriam a sala toda, pois se limitavam ao termo do grupo a que se ligaram.  – Quero que fique como está. Pedro, use outra cor. Misture um pouco de azul com amarelo que você tem o verde. Todo mundo de volta ao trabalho. – Concluiu já com os olhos na tarefa que preparava.

Vera, não se deu conta, mas além da sua mesa um mundo novo se desenhava. Uma criança empurrava outra que, desatentamente, aproximava-se demais do grupo a que não pertencia. Outra criança, de calçado branco, pisou por acidente o pé de uma que calçava azul o que provocou animosidade entre os dois grupos.

O que começou como uma brincadeira estava deixando as crianças ansiosas e irritadiças. Pois já mediam que grupo era mais forte, que grupo tinha mais integrantes, em que grupo estavam os mais bonitos da sala, ou os que tiravam melhores notas. E só piorava. Não demorou muito pra que línguas desaforadas fossem mostradas de um para outro lado, assim como caretas e bocas de desdém.

Vera repetiu a experiência por algumas semanas. E já não se viam línguas pra fora, tampouco caretas. Não por terem as crianças entrado em acordo. Ao contrário, sabendo-se que ao olhar para alguém do outro grupo a resposta seria uma expressão desaforada, não se olhavam mais no rosto. Olhava-se tão somente os pés. Eram eles o elo, a identificação, a personalidade de cada um.

E assim foi. E a isso se acostumavam cada vez mais. E menos barulho se ouvia, pois os grupos agora conversavam baixinho para que o outro não ouvisse pois, em geral, o que se falava era crítica a algum membro dos de fora.

Para Vera a situação parecia perfeita. Cessaram-se as discussões, as gritarias, o corre-corre. Tudo estava em plena harmonia.

Numa noite de terça-feira Vera telefonou pra sua coordenadora. Estava com muita rouquidão e dificuldade de respirar. Avisou que não poderia estar na escola na manhã seguinte e pediu pra ser substituída por alguém. A própria coordenadora prometeu substituí-la enquanto se recuperava. Todos gostavam de Vera e seu bom histórico depunha em seu favor.

Na manhã de quarta-feira, bem antes que as crianças chegassem tia Sonia, a coordenadora, estava já em sala a preparar tudo para receber os alunos. Preocupada em minimizar a ausência de Vera e algum possível desconforto das crianças com a mudança de professora, levou consigo vários objetos. Queria uma aula muito dinâmica e divertida para conquistar a atenção e afeto das crianças rapidamente.

Tudo pronto. Pôs-se à porta para recebê-las uma a uma, com muita disposição e simpatia.

Sonia tinha em mente vários jogos e desafios que seriam executados em um pequeno circuito que ela preparara dentro da sala. Estendera um tapete espesso, emborrachado para que até possíveis quedas dessem prazer ás crianças ao invés de alguma dor. Chegadas à porta as crianças podiam ver a sala enfeitada de balões, bolas, barreiras, cordas, traves e muito mais. Estavam ansiosas!

Sonia fê-los entrar, não sem antes mandar que todos tirassem os calçados.

Entravam correndo, pulando, sentindo a gostosa maciez do tapete. Estavam encantadas com tantas cores e objetos, sentiam-se mais em um parque que em uma sala de aula.

- Atenção, todos! – alertou tia Sonia – vamos nos acomodar para que eu possa explicar o circuito de jogos!

Sonia estranhou que as crianças correram a olhar os pés umas das outras parecendo tão perdidas, tão confusas!!! Como se procurassem algo, todos os olhares corriam o chão, miravam os pés alheios. E percebeu que, então, as crianças iam se acalmando e começavam a erguer os olhos lentamente. E viam canelas, joelhos, ombros, rostos, olhos. Olhos brilhantes, bonitos, amigáveis, puros e gentis. Olhos iguais aos seus próprios.

Geovani.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Cuidado com sua roupa

Fui um dos primeiros a entrar no trem naquele dia. Sentei-me ao fundo, de onde podia ver tudo o que se passasse no vagão. Chamou-me a atenção a entrada de um grupo de pessoas muito bem vestidas. Pareciam ir a alguma festa de gala. Roupa impecável.

Os demais passageiros estavam em seus trajes do dia a dia. Podia-se ver, pela forma como se vestiam, que alguns vinham de trabalhar em construção, outros vinham de fazendas, um grupo parecia, tal era o estado deplorável de suas roupas e as manchas em seus corpos, vir de alguma carvoaria.

Era véspera de réveillon e, embora desconhecidos, estavam todos tão animados, traziam rostos tão cheios de alegria e esperança. Um entusiasmo gentil tomava conta de todos e a todos contagiava.

As pessoas se cumprimentavam, riam, cantavam e, claro, se movimentavam muito.

Para os que se vestiam a rigor tal realidade era um pesadelo! 

Como manter camisas tão claras e bem passadas intactas em meio a toda a bagunça e estardalhaço que os demais faziam? É inacreditável o poder que a roupa tem sobre o comportamento! Uma roupa sob medida, que o comprima elegantemente irá tirar todo seu desejo de pular, correr, jogar-se de qualquer forma sobre o assento.

Porém, a despeito de toda a alegria desimpedida dos que festejavam, havia um respeito solene pelos que estavam em traje de gala. Ninguém lhes pregaria uma peça, tampouco por maldade lhes tocaria as roupas. Era véspera de réveillon! Havia um sentimento de amizade, de companheirismo tão grande! 

Alguns dos que estavam elegantemente vestidos não resistiram a tanta camaradagem e, aos poucos se soltaram e entraram na brincadeira. 

Logo se esqueciam do cuidado com as vestes que usavam e a roupa, pouco a pouco, se desalinhava. Uma sujeirinha aqui, outra ali.

Também os demais os recebiam tão bem e com tanto contentamento que acabavam por acreditar que era bobagem perder aquela diversão toda por causa de uma roupa.

A viagem se prolongava e mais pessoas entravam na brincadeira. Mesmo os que pareciam, a princípio, tão compenetrados, tão envolvidos numa seriedade cuidadosa, se deixavam, com o passar do tempo, se levar pelas músicas e brincadeiras.

Muitos já haviam se esquecido de que o propósito não era a viagem, mas o destino!

E então, o destino chegou.

Cada um seguiu seu caminho. 

Triste foi ver como a alegria dos que antes estavam tão bem vestidos se foi. Ao se depararem com o salão ornado e os demais convidados tão elegantes, deram-se conta de que jogaram tudo fora. Por alguns poucos momentos de diversão a grande e maravilhosa festa estava perdida. Era elevada demais para que fossem aceitos naqueles trajes amarrotas e sujos!

Ah, se eles tivessem guardado suas vestes. Se não se tivessem deixado contaminar pela alegria vã da viagem... estariam agora celebrando.


"Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas." Apocalipse 16:15 
"Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos" Apocalipse 7:9

Geovani.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O silêncio vale ouro

(Como a ideia do blog é guardar textos que ainda não tinham ido pro lixo  - mesmo que possam merecer tal destino - vou colocar aqui alguns que já estavam prontos.)


João foi convidado para participar de um programa de TV cujo prêmio pago chegava a R$ 1.000,00 reais. Era sempre alguma regra nova. Todos no auditório sabiam do que se tratava, menos o participante.

No caso do João, ele começava a brincadeira já com os R$ 1.000,00 reais garantidos. A regra (que ele não conhecia) regia que a cada palavra pronunciada por ele, ele perderia R$ 5,00.

Após ser apresentado e se preparar, foi-lhe avisado que o jogo havia começado. Todos esperavam que João perdesse muito pouco do prêmio. Ele era conhecido por ser muito esperto, hábil com as palavras e de grande rapidez de raciocínio.

- Qual é mesmo o seu nome, rapaz? – perguntou o apresentador.

- João.

"Tic-c-c-c-c-c!"

João ficou surpreso ao ver que o valor do prêmio mostrado no painel caiu alguns reais. A platéia riu!

João era esperto e já estava sacando que algo em suas respostas fazia o prêmio cair. Ele conhecia o programa e as pegadinhas que faziam.- Então não é bem responder certo ou errado, mas a forma como respondo. – pensou.

Você é brasileiro, João?

- Sim. Eu sou brasileiro.

Tic-c-c-c-c-c-c-c!

Dessa vez foi descontado um valor ainda maior.

João se ajeitou na cadeira, franziu a testa mirando o painel como se tentasse atravessá-lo e entender o segredo da brincadeira, deu um sorrisinho como quem faz uma ameaça e preparou-se para a próxima.

- Gosta de futebol, João?

João era apaixonado por futebol, mas arriscou: – Odeio futebol.

Não adiantou. Outro tanto foi descontado do prêmio.

João sabia que havia um prejuízo grande sempre que falava! Mas ele precisava descobrir o porquê. Ganhar aquele jogo!!! Afinal, ele era tão inteligente e esperto! Todos o admiravam tanto e seu raciocínio estava bem acima da média! Não podia compreender, tampouco, aceitar aquele revés. E quanto mais perdia mais nervoso ficava, mais ansioso e menos se concentrava, menos raciocinava com clareza.

E assim foi até que o valor do prêmio foi totalmente zerado!

Quando finalmente lhe explicaram a regra ele entendeu que muitas vezes a melhor resposta é calar a boca.

Geovani

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Começar do começo.

De que outra forma eu poderia começar esse blog senão tomando como primeiro assunto o livro dos livros? O mais publicado, vendido e lido em toda história: A Bíblia!

Quero destacar o livro. Não o conteúdo espiritual. Para tanto, o melhor modo que me vem agora é a parte do filme 'The Sunset Limited' em que um ateu e um cristão discutem a Bíblia.

O ateu é um professor que pretendia cometer suicídio naquele dia. Foi salvo pelo cristão que o impediu de se jogar na frente de um trem.

Em um momento da discussão, o cristão pergunta quantos livros o professor ateu já teria lido em toda sua vida. Claro, muito difícil cravar um número exato. Mas, segundo o professor, uns dois por semana, talvez cem por ano durante quarenta anos. Bom, supõe que uns quarenta mil livros lidos.

40 mil livros lidos!

Todos nós sabemos de pessoas que se dizem apaixonadas por livros. Mas, semelhantemente ao caso do filme, se você perguntar se leram a Bíblia, no máximo, dirão que já leram alguma coisa. "Já li o livro de Jó", foi exatamente a resposta do professor.

Creio que concordamos que se alguém tiver lido a introdução de Guerra e Paz NÃO leu Guerra e Paz. Quem leu duas folhas de O Pequeno Príncipe não leu o livro. Mas as pessoas gostam de dizer que conhecem ou que leram a Bíblia por terem lido alguns de seus textos.

Aqui é que está o ponto! E a pergunta fica justamente pra quem tanto gosta de ler: Como alguém apaixonado por livros pode não ler o livro que é o mais popular dentre todos? O maior  best seller!

E aqui não cabe gosto, crença, estilo, padrão, nada, nada! Um enólogo não prova somente os vinhos de sua preferência.

E veja que estamos falando de pessoas cultas, informadas, conhecedoras de muitos assuntos, porque esse é o natural de quem ama os livros. Assim, não há explicação lógica, cabível, inteligível para que tais pessoas desprezem justamente o livro chave, a primeira de todas as publicações impressas!

A resposta definitiva e aceitável, embora pareça irônica, virá da própria Bíblia. Mas ai, seria passar a algo mais profundo que a simples observação literária.

Deixo então o peso da responsabilidade sobre quem se declara amante de livros para que lendo, entenda. Entendendo, creia.

Só lembrando que livro lido, é livro inteiramente lido.

Geovani.